Num carro de tracção traseira as rodas traseiras são responsáveis pela força de tracção, enquanto que as rodas dianteiras lidam somente com as forças de direcção. Nos carros de tracção dianteira já não é assim, os pneu dianteiros têm de lidar com ambas as forças, e por isso mais facilmente se excede a capacidade de aderência dos pneus, enquanto os pneus traseiros quase que tiram “férias”.
Nos carros de tracção traseira – este esforço é divido pelos dois eixos. Os pneus da frente lidam apenas com as forças direccionais enquanto que os pneus traseiros lidam unicamente com a tracção do carro. Este factor faz com que se consiga fazer uso pleno da capacidade de aderência de ambos os eixos, o que se traduz em velocidades de curva superiores. Este é o principal motivo. Os outros são secundários mas não deixam de ser válidos:
-Melhor distribuição de pesos: A maioria dos carros de tracção traseira tem o motor na dianteira e os componentes da transmissão na traseira (um bom exemplo é o Lexus LFA, ou o Mercedes SLS que têm as caixas de velocidade sob o eixo traseiro), enquanto os carros de tracção dianteira têm tudo à frente. Ao ter os componentes distribuídos pelos dois eixos o comportamento do carro torna-se mais previsível e neutro devido ao seu menor momento de inércia. Um bom exemplo, é o BMW Série 1. Como veremos, este factor influência em muitos outros aspectos a dinâmica.
-Melhor Aceleração: Em quase todas as situações a capacidade de aceleração de um carro de tracção traseira em arranque é superior à de um carro de tracção dianteira. Isto sucede porque ao arrancar há uma transferência de peso para a traseira do carro e que se traduz num aumento da pressão sob a borracha e que aumenta a sua capacidade de tracção. No carro de tracção dianteira o mesmo fenómeno tem o efeito contrário fazendo com que os pneus patinem mais com a mesma dose de potência.
-Melhor capacidade de travagem: Por causa da melhor distribuição de pesos a perda de balanço entre a dianteira e a traseira em situação de travagem de emergência é menor, logo o esforço entre os pneus da frente e de trás é mais equilibrado.
-Melhor capacidade para curvar rápido: Não querendo tornar-me repetitivo, uma transferência de peso equitativa entre os eixos faz com que o carro tenha um comportamento mais neutro devido ao seu menor momento de inércia, o que o torna mais manobrável. A tendência para fugir de frente (subviragem) é menor na medida em que a carga sob a dianteira for menor ao nível da tracção. O facto de ter a tracção nos pneus traseiro também permite que se curve com auxilio de uma deriva controlada da traseira.
- Ausência de “torque-steer” e melhor feeling: Como sabem, carros de tracção dianteira com potências superiores a 150cv’s sofrem todos de um problema, que é a repercussão do binário no tacto da direcção. O trabalho do diferencial faz sentir-se no volante e deixa-nos muitas vezes sem saber o que se passa “lá à frente”. Hoje em dia, através do recurso a geometrias de suspensão mais elaboradas e de vários pivot’s consegue-se excelentes resultados no processo de digestão da potência pelo eixo dianteiro, no entanto estes resultados são conseguidos com algum custo. Nomeadamente afinações de molas e suspensões mais “rijas” que tornam o carro menos confortável e menos tolerante aos desníveis laterais do asfalto. Sendo o carro de tracção traseira, os engenheiro podem concentrar-se em aumentar o feeling da dianteira e a sua capacidade de “virar” o automóvel.
-Melhor acessibilidade mecânica e durabilidade: Não é à toa que os taxistas preferem carros com esta configuração. Certo?
-Fun-factor: Há coisa melhor do que conduzir um bom carro de tracção traseira? Claro que não!
Posto tudo isto, porque raio inventaram então os carros de tracção à frente? Por dois motivos essenciais: O primeiro é que fica mais barata a montagem e produção de um carro de tracção dianteira. Tem menos componentes e a sua montagem é integrada. O segundo é os ganhos ao nível de habitabilidade interior. Estando todos os componentes concentrados na frente do automóvel liberta-se espaço para a bagagem e passageiros pela ausência de túnel central.
Felizmente, os tracção dianteira dos dias de hoje graças aos avanços feitos ao nível da electrónica e suspensões são tudo menos aborrecidos. Veja-se o Renault Mégane RS; o Ford Focus RS; ou o Mini Cooper S. Para os mais saudosistas não poderia deixar de nomear outros carros de tracção dianteira de condução épica: Citroen AX GT; Peugeot 106 Rally; Volkswagen Golf GTI MK1; e “the last but not the least” o Honda Integra Type-R!
Portanto apesar deste artigo ser sobre as maravilhas da tracção traseira, aqui fica um pequeno tributo às maravilhas dos “tudo à frente”:
Sem comentários:
Enviar um comentário